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  • Foto do escritorrutefiguinha

"Tenha calma mãe"

No outro dia a minha querida Sílvia Maurício Russo, homenageou-me com um lindo gesto.

Ofereceu-me o livro sobre a querida Madalena. Um livro envolto de uma partilha e de um amor incalculável sobre a perda, mas essencialmente, sobre o seu amor por Madalena.

É um livro que já estou quase a terminar de ler e que me faz chorar com cada texto que me toca na alma.

Eu também sou uma mãe desfilhada e sei dar valor a cada palavra gravada a tinta em cada página escrita com amor pela Sílvia.

Revejo-me em quase todos os textos em que ela fala. Digo em quase todos porque a descrição da vida da querida Madalena é muito diferente da vida do meu Pedro. Ela só foi contemplada com o sopro da vida por cinco anos e dez meses e isso torna tudo diferente.

A Madalena não teve escolha. O Pedro sim. Só não conseguiu resistir ao desejo da morte e assim partiu para longe de mim e de todos os que o amavam.

Hoje tivemos mais uma consulta de psicologia. Desta vez foi a vez do meu David.

Correu bem perante a descrição da médica, a qual teve o cuidado de nos chamar aos três no gabinete para nos explicar como iriam funcionar as consultas dali para a frente.

Não concordei com a explicação da médica. Chorei e revoltei-me e expliquei à doutora a razão da minha indignação. Expliquei à doutora que no caso do meu Pedro não tive opção de escolha ou abertura para poder falar com a médica, mas neste caso concreto, com o David irá ser diferente. Ele como menor que é, eu vou exigir acompanhar todo o processo por dentro.

“Tenha calma mãe, entendo que tenha medo de passar por tudo novamente, mas com o David vai ser diferente. Ele é um jovem que sabe bem o que quer e tem objectivos bem definidos na vida”. (…) “Ele também me disse que só estava aqui porque os pais lhe tinham pedido”. (…) “Se no final da consulta ele não me quisesse mais ver, a minha prestação terminava na primeira consulta”.

Percebem a minha indignação? Mas que treta é esta?

Os pais procuram ajuda profissional para os filhos e porque eles são maiores ou perto de se tornarem maiores, só porque tem dezassete anos, tem a última palavra sempre.

Mas será que estes profissionais, não entendem, que se procuramos ajuda é porque melhor do que eles mesmos, sabemos que os nossos filhos precisam de aconselhamento médico?

Para que servem afinal os pais?

Somente para providenciar comida e bem-estar materialista?

No meio da minha revolta interna, expliquei à médica que não tinha nenhum problema com o que o meu filho ali iria falar. Sabia com toda a certeza que não havia nada que me pudesse magoar.

“O meu filho fala comigo e abre o seu coração, mesmo quando me vê envolta de tristeza, eu dou sempre hipótese ao David para ele falar abertamente sobre a horrível perda".

Escuto com muita atenção, o seu sentimento de dor e tristeza.

Partilhamos a mesma angústia, a mesma revolta, tristeza, indignação e amputação.

Eu perdi um filho e ele perdeu um irmão.

A sua alma gémea, como ele faz tanta questão de salientar.

Estou aqui e estarei para sempre na vida dos meus filhos, é o meu propósito de vida, foi para isso que eu nasci, e não deixarei que eles se esqueçam.

Na alegria, na tristeza, no amor, na dor e na doença, estarei sempre aqui.

Foi uma promessa que vos fiz quando nasceram e cumprirei até que Deus queira.

Amo-vos muito meus amores.


Hoje tem sido um dia complicado.


Foto de Rute Reis Figuinha

Livro de Sílvia Maurício Russo

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