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Certos sim's que lhes negava

Eu costumava ficar horrorizada com as noticias que passavam na televisão na hora do telejornal. Horrorizada com aqueles filhos que perdiam a vida e com os pais que perdiam seus filhos. E costumava dizer, "meu Deus que agonia a daqueles pais que vêem sair seus filhos com vida, sem saber do pior que está por vir ainda nesse dia. Chegava a emocionar-me com as terríveis noticias e mais uma vez agradecia a Deus pelos meus filhos e pedia-lhes mais uma vez para não deixar nada lhes acontecer e protegê-los sempre. Mais tarde quando chegava a casa, já tinha o hábito de na hora da refeição, comentar a minha aflição de mais uma terrível noticia do dia, aproveitando para lhes relembrar o porquê de certos sim's que lhes negava. -" Percebem agora filhotes, porque não vos deixo andar na rua para além da meia noite em dias de festa? - Percebem porque não gosto e evito que vocês frequentem festas e arraiais? . Percebem agora porque não vos deixei ir ao Carnaval de Torres Vedras sem ser connosco devido a todos os perigos existentes nesses dias de folia? - Vocês são demasiado preciosos para mim. Não abro mão, nem corro riscos desnecessários que coloquem em risco o vosso bem-estar e muito menos a vossa vida." Na minha mente recusava a todo o custo vivênciar a dor daqueles pais. Recusava-me acreditar, que fosse possível continuar a respirar depois de tal horror em nossas vidas. Questionava-me todas as vezes. Meu Deus, como vai ser agora com aquela família? Com aqueles pais que deixaram o seu filho ou a sua filha ir somente a um arraial e que por causa de um mal entendido, uma bebida entornada, se elimina da existência um ser, sonhos e toda uma vida por viver. "Não quero isto para mim! Não quero isto para os meus! Por favor livre-me disto," Foi sempre o que pedi meu Deus, que nunca me faltasse um dos meus. Os meus mais velhos, nunca viam com bons olhos a minha decisão, diziam que a vida é para ser vivida e que se formos a pensar em tudo o que pode acontecer de mal, então que seria melhor permanecer em casa ou deitado numa cama. Não entendiam a minha decisão, ficavam diversas vezes chateados e no final resignados com cada vez que eu lhes dizia. - "Filhos lamento! Mas vocês são demasiado valiosos para mim. Morro se vos acontecer alguma coisa, Não quero correr nenhum risco e recuso-me a ficar sem vocês por uma saída ou por uma viagem, onde eu não estou com o vosso pai para vos proteger." Era nisto que eu acreditava, que tinha um escudo demasiado forte, capaz de envolver os meus filhos e assim evitar que algo de mal lhes acontecesse. Penso que de uma maneira geral, todos os pais pensam assim. Hoje já não sei o que pensar, se por um lado não devo proteger demasiado os meus dois meninos que estão comigo, porque eles tem que viver e ir a festas e estar com os seus amiguinhos, por outro lado tenho medo dos perder. Tomei consciência da forma mais dura que quando a hora chega, mais nada a segura. A MORTE chega e leva tudo com ela. Sonhos, Sorrisos, Projectos, Festas, amizades, amores e a família. SIM! A MORTE não leva só o nosso filho! Ela leva também todos nós, a família e os amigos. Quando penso em tudo o que perdi e o que não vivemos juntos, nos teus sonhos que ficaram em aberto, penso somente que deixei de ser uma pessoa e passei a ser um espectro. Era disto meus filhos que eu vos falava, se ficassem sem um de vós. Morrer todos os dias numa vida, ou viver uma Morte todos os dias, escolham o que mais gostarem que eu fiquei sem opção de escolha. Mesmo hoje passados estes dois meses e dezanove dias, quando o meu filho Davi me responde - "Mãe eu não tenho culpa do que aconteceu ao mano Pedro, eu não sou o Pedro e nem concordo com o que ele fez, mas eu preciso continuar a viver," É verdade meu amor e eu prometo-te que vou gerênciar o meu medo e a minha dor e deixar-te percorrer o teu caminho sem sufocar com o pensamento e agonia de que fui um dia a mãe mais completa do Universo. Era tudo isto meu Pedro! Era tudo isto que eu menos queria! Ficar sem ti na minha vida! Amo-te e amar-vos-ei eternamente!


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