Mais um dia!
Recuso-me a levantar,
recuso-me a reagir, sinto-me como se estivesse presa numa camisa de forças e por mais estranho que pareça, sinto-me bem.
Dentro de todas as memórias e toda a tristeza que me assola, sinto-me bem.
Os que julgam e apontam o dedo vão fazê-lo mais uma vez porque não sabem, não sentem, não vêm e não vivem, a tristeza que nos abraça, a angústia que nos cerca e o desespero que nos derruba por não termos o nosso filho vivo e por perto.
E questionam vocês.
E sente-se bem?
Sim! Porque me deixo estar presa nessa camisa de forças que não permite nem deixa que me escape um momento, um sonho, uma memória do meu filho.
Aqui estou só eu e ele.
Abraçados no tempo, unidos pela camisa de forças, onde a mais ninguém é permitido entrar.
Se eu deixar este momento, fico vulnerável, sinto-me frágil porque tudo o que me rodeia é envolto de falsidade e de muitos olhares e de muitas maldades alheias.
Sejamos frontais!
O ser humano tem por norma e defeito julgar o próximo sem antes ter provado do veneno.
Convido-vos a provar!
E talvez um dia, olhos nos olhos, voltemos a falar.
Quando viver o mesmo que vivo e vivi naquele dia, mudará a sua opinião.
A não ser que seja cego e não permita que o amor lhe chegue ao coração.
Idiota e Arrogante é aquele que pensa e verbaliza que o meu Pedro era o meu filho favorito.
Ignorante aquele que diz que o meu filho era uma criança que sofria,
Não há filhos preferidos!
Não há filhos favoritos!
E não há jovem nenhum que em determinada altura de sua vida não pense que o mundo está todo contra ele.
Eu perdi um filho! perdi uma vida muito preciosa para mim.
Ponto final!!!
Quem pensa e ousa verbalizar tais absurdos não sabe o que é o amor e muito menos o que é ser pai ou mãe.
Tenho pena de vocês! Que sois meramente tristes mortais.
Desprovidos de inteligência e de amor pelo próximo que nem mesmo num momento horrÃvel conseguem resumir-me à vossa insignificante existência.
Convido-vos a ouvir da boca de um médico -
"Fizemos tudo o que podÃamos, mas não foi possÃvel reanimar o vosso filho, tentamos 5 ou 6 vezes sem sucesso, lamento profundamente".
Não querem pois não?
Abutres são o que são!
Não tenho outro nome que vos caracterize tão bem.
Não abram mais a vossa boca sobre o que vocês pensam que ele era ou gostaria de ser.
Vocês não o conheciam!
Conhecem os seus?
Sabem onde estão os vossos neste momento?
Com quem estão? ou a fazer o quê?
Pois é!
Falar é fácil e inventar ainda mais.
Há, é verdade! Já me esquecia...Fiquei a saber que mudei de casa, já agora podem enviar-me a minha nova morada?
Por acaso já pensaram em escrever um livro?
Escrevam-no em que a vitima é o vosso filho ou filha, em que é ele ou ela quem morre.
Desafio-os!!!
Em que é a ele ou a ela que acabam os sonhos, e em que é a vocês que vos é dito que o vosso filho ou filha morreu!
Imaginem-se a escolher o caixão e as últimas roupas que ele ou ela irão vestir no dia do adeus.
E aà sim!
Estaremos em pé de igualdade e falaremos olhos nos olhos como meros mortais que somos e não como alguns de vós se intitulam...como um "Deus".
Tenho pena de vocês que não olham com o coração e apenas saboreiam com veneno as desgraças alheias.
Sanguessugas da sociedade.