Mata-me por dentro sequer pensar que sofreste naquele exacto momento da tua queda.
Chega-me a tirar o ar até ao ponto de ficar tonta e angustiada por pensar na dor que sentiste até ao teu último milésimo de segundo de vida.
Chamavam-me tantas vezes de mãe galinha, porque eu não podia sequer imaginar que um filho meu estava magoado. "Deixa o puto crescer" diziam...
Lembro-me tão bem do episódio contigo e a tua amiguinha Cátia na altura ela com 5 anos tu com 4, quando após várias vezes a mãe te ter dito para não saltares os degraus que podias cair e aleijar-te e tu dizias...
- "Não Mamã! eu consigo!"
Saltaste só mais duas vezes e tivemos que correr contigo para o centro de saúde porque havias estalado os teus dentinhos de leite.
A minha aflição na altura não me deixava pensar, a única coisa que eu precisava saber é de que ficarias bem. Tinhas o poder de colocares o nosso coração sempre aflito.
Ainda me recordo do dia, tinhas uns 5 anos em que agarraste na tua bicicleta e desceste uma ribanceira perto da biblioteca da base.
Quando chegas junto a nós a sangrar do queixo com a roupa toda ensanguentada e a bicicleta toda torta, mas que recusaste a deixar para trás e mais uma vez lá correu o pai contigo para o hospital enquanto eu ficava com o mano David ainda pequenino em casa,
Queixo colado, cara inchada e confidenciavas-nos:
- "Mamã, Papá foi muito fixe! Parecia que estava a voar.
Entre outras peripécias que fizeste, sempre viste a aflição com que eu ou o pai ficávamos se tu ou um dos teus irmãos se magoava.
Como me pudeste tu fazer isto?
Todos os dias eu me questiono e isso tira-me o sono.
Só de pensar o quanto sofreste até ao teu último milésimo de segundo.
O que sentiste quando saltaste?
O que sentiste quando embates-te no chão?
Pensaste que morrerias na queda?
Tenho a certeza que não foi bem como planeaste.
Ficaste ainda acordado até cada órgão e cada célula do teu tão precioso corpo se começar a desligar.
Ainda falaste, ainda deste uma ou duas gargalhadas, mas quando passaste por mim naquela porta de hospital já te encontravas inconsciente, mas vivo porque vi que o teu coração batia através daquela máquina que te acompanhava.
Morreste sozinho meu filho, enfiado numa máquina de T.A.C enquanto eras observado por técnicos e a médica que me deu a noticia que tinhas partido, através de um vidro.
Sentiste dores quando te mexeram?
Quando te passavam da maca para a maquina doeu-te meu amor? Doeu?
Pergunto porque eu passei por essa experiência e é algo que não desejo a ninguém. É horrÃvel! HorrÃvel demais, teres os ossos todos partidos e os enfermeiros terem que te mover de um lado para o outro.
Na minha experiência eu estava acordada, o efeito do medicamento já havia terminado e foram horrÃveis os meses seguintes aos meus ferimentos, Tu sabes! Tu viste!
Mas não estou a falar de mim, falo de ti!
E eu só gostava de saber se sofreste ou não.
Em nada altera a tua história, mas a mim filhote aliviaria um pouco a minha dor se eu tivesse a certeza que depois do embate no chão não tivesses sentido mais nada.
Nem sequer o furo que tiveram que te fazer nos pulmões para te ajudarem a respirar a caminho do hospital.
Hoje que penso em tudo o que viveste nesse dia, não sei como é que todos nós, a tua famÃlia e amigos pudemos pensar que vencerias a morte naquele fatÃdico dia.
Sempre acreditei que te levaria para casa, mas não da forma como foste.
Amo-te Pedro!
Amo-te tanto que chega-me a doer a alma e o corpo ao ponto do ar que respiro me deixar tonta, e eu parar de respirar por uns breves momentos.
Como não pensaste por um minuto sequer que parte de mim morreria contigo naquele salto.
Amo-te e amar-te-ei eternamente mas não compreendo a tua decisão.